quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Porque Serviço Social ?


Ontem participei da segunda etapa de seleção para um estágio e, nessa fase, pediram-me para escrever uma redação com o seguinte tema: “Porque você escolheu o Serviço Social como profissão?”

Eis minha resposta:

Quando fiz 20 anos surgiu uma inquietação em mim: a desigualdade social. Naquela época, eu pensava: “sou branca, de classe média, tive acesso a ótimos colégios, estou bem empregada aos 20 anos, já fiz um curso completo de inglês e tenho uma incrível gama de possibilidades à minha frente. Porque sou a minoria?”

Essa inquietação crescia dentro de mim, havia em mim um sentimento de dívida para com meus pares pois a vida havia me proporcionado muito e eu sentia a responsabilidade de retribuir à ela de alguma forma, na pessoa do meu semelhante.

Sempre compartilhei sobre essa inquietação com minha família e amigos. Já ouvi dezenas de vozes sobre esse assunto. Já fui rotulada de Madre Tereza, romântica e de ser movida pela culpa. Até que cheguei à uma conclusão: essa era uma questão minha e só eu poderia dar o direcionamento correto a esse sentimento a fim de torná-lo uma resposta para mim e para o mundo.

Foi dessa forma que aos 23 anos, optei pelo Serviço Social, para satisfazer minha necessidade de respostas para as contradições da sociedade e para me posicionar frente as mesmas, a favor daqueles que vivem em situação de vulnerabilidade social.

Tenho certeza de que não posso mudar o mundo sozinha, mas minha busca definitivamente não é esta. Busco um espaço de trabalho em que o que eu faça contribua para a melhora da qualidade de vida de pessoas que nasceram em berços e Ceps menos favorecidos.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Manual para jovens sonhadores

 



"Essa história me lembrou de uma experiência muito especial que eu tive há alguns anos, em uma dessas épocas em que eu estava procurando por alguma coisa que fizesse sentido. Lá estava eu, na Guatemala, com uns trinta e poucos anos passando por um dos meus muitos momentos de não saber bem

o que queria fazer da minha vida, me questionando se precisava voltar a mudar de emprego ou não e lendo todos os livros que me ajudassem, quando resolvi que a solução para meu desânimo poderia ser um veleiro. Logrei convencer duas amigas igualmente inquietas e solteironas, também meio sem rumo, a entrar na aventura comigo.
Para nossa alegria, de cara tivemos muita sorte, porque achamos um veleiro que tinha acabado de afundar e que estava sendo vendido por um preço que, dividido entre as
 três, poderíamos pagar. Detalhe: nenhuma de nós jamais tinha velejado, e achávamos que
só com uma pintura e cortinas novas o veleiro estaria pronto para navegar. Seríamos as três primeiras guatemaltecas a dar a volta ao mundo.


Bom, logo descobrimos que teríamos um belo trabalho pela frente… O sistema elétrico precisava ser completamente trocado,o mastro estava avariado e grande parte da madeira interna tinha


apodrecido, mas pelo menos o barco flutuava e tinha um motor e velas que funcionavam.

Começamos a ir todos os fins de semana trabalhar no nosso barco, e, nos outros dias, líamos todos os livros sobre velejar que conseguíamos achar. Também fizemos algumas aulas básicas de velejo e, conforme fomos aprimorando os nossos conhecimentos

marítmos, arriscamos pequenas aventuras, percorrendo baías próximas de onde nosso barco estava ancorado. E também passamos a fazer parte da comunidade da marinha e a conhecer alguns dos marinheiros, verdadeiros lobos do mar, que tinham histórias fantásticas de travessias pelo oceano.  
 
Nosso sonho era grande, e não desanimamos apesar de tudo o que precisava ser consertado e de tudo o que implicaria planejar e fazer uma viagem ao redor do mundo. E nossas vidas adquiriram uma razão de ser, de repente tínhamos um propósito pelo qual
correr atrás.

 

No fim, não conseguimos velejar além da região onde estava ancorado nosso veleiro.

De repente meu trabalho me ofereceu uma oportunidade de ir para a Nova Zelândia, que me pareceu uma forma mais rápida (e confortável) de ver o mundo, mas
nunca vou me esquecer de algumas palavras que meu pai me falou nessa ocasião:

“Que bom que você conseguiu realizar esse sonho tão cedo.

Existem pessoas que têm de esperar uma vida inteira até se
aposentar para poder viver uma experiência assim.”
 
 E pensar que eu ocultei esse veleiro por meses dos meus pais por medo do que eles falariam... Tinha que ter percebido que estava mentindo por diversão!
 
 
Até hoje, cada vez que me lembro desses dias, sinto  uma felicidade enorme de saber que consegui fazer isso. Contra tudo o que os outros pensaram de negativo, nós conseguimos viver uma vida de marinheiras malucas, levando turistas e amigos para pequenas excursões, ouvindo música enquanto as velas se inflavam de ar, improvisando nossas
refeições a bordo e acordando cedo com o movimento das ondas.

Poucas coisas se comparam a essa experiência que me deixou tantas memórias inesquecíveis e a esse sentimento indescritível que ainda tenho quando  estou fazendo algo de que realmente gosto, por mais maluco e sem cabeça que possa parecer aos outros.

Porque a única coisa mais dolorosa do que não alcançar um sonho é não correr atrás dele, desistir e se conformar sem sequer tentar, perdendo a energia e a felicidade que a aventura pode nos gerar."

Nathalie Trutmann