"Essa história me lembrou de uma experiência muito especial que eu tive há alguns anos, em uma dessas épocas em que eu estava
procurando por alguma coisa que fizesse sentido.
Lá estava eu, na Guatemala, com uns trinta e poucos anos
passando por um dos meus muitos momentos de não saber bem
o que queria fazer da minha vida, me questionando se precisava
voltar a mudar de emprego ou não e lendo todos os livros que
me ajudassem, quando resolvi que a solução para meu desânimo
poderia ser um veleiro. Logrei convencer duas amigas igualmente
inquietas e solteironas, também meio sem rumo, a entrar na
aventura comigo.
Para nossa alegria, de cara tivemos muita sorte, porque achamos um veleiro que tinha acabado de afundar e que
estava sendo vendido por um preço que, dividido entre as
três, poderíamos pagar.
Detalhe: nenhuma de nós jamais tinha velejado, e achávamos que
só com uma pintura e cortinas novas o veleiro estaria pronto para
navegar. Seríamos as três primeiras guatemaltecas a dar a volta ao mundo.
Bom, logo descobrimos que teríamos um belo trabalho pela frente… O sistema elétrico precisava ser completamente trocado,o mastro estava avariado e grande parte da madeira interna tinha
Começamos a ir todos os fins de semana trabalhar no nosso barco, e, nos outros dias, líamos todos os livros sobre velejar que
conseguíamos achar. Também fizemos algumas aulas básicas de velejo e, conforme fomos aprimorando os nossos conhecimentos
apodrecido, mas pelo menos o barco flutuava e tinha um motor e velas que funcionavam.
marítmos, arriscamos pequenas aventuras, percorrendo baías próximas de onde nosso barco estava ancorado. E também
passamos a fazer parte da comunidade da marinha e a conhecer
alguns dos marinheiros, verdadeiros lobos do mar, que tinham
histórias fantásticas de travessias pelo oceano.
Nosso sonho era grande, e não desanimamos apesar de tudo o que precisava ser consertado e de tudo o que implicaria planejar e fazer uma viagem ao redor do mundo. E nossas vidas adquiriram
uma razão de ser, de repente tínhamos um propósito pelo qual
correr atrás.
No fim, não conseguimos velejar além da região onde estava ancorado nosso veleiro.
De repente meu trabalho me ofereceu
uma oportunidade de ir para a Nova Zelândia, que me pareceu uma forma mais rápida (e confortável) de ver o mundo, mas
No fim, não conseguimos velejar além da região onde estava ancorado nosso veleiro.
nunca vou me esquecer de algumas palavras que meu pai me
falou nessa ocasião:
“Que bom que você conseguiu realizar esse sonho tão cedo.
Existem pessoas que têm de esperar uma vida inteira até se
“Que bom que você conseguiu realizar esse sonho tão cedo.
aposentar para poder viver uma experiência assim.”
E pensar que eu ocultei esse veleiro por meses dos meus pais por medo do que eles falariam... Tinha que ter percebido que estava mentindo por diversão!
refeições a bordo e acordando cedo com o movimento das ondas.
Poucas coisas se comparam a essa experiência que me deixou tantas memórias inesquecíveis e a esse sentimento indescritível que ainda tenho quando estou fazendo algo de que realmente gosto, por mais maluco e sem cabeça que possa parecer aos outros.
Poucas coisas se comparam a essa experiência que me deixou tantas memórias inesquecíveis e a esse sentimento indescritível que ainda tenho quando estou fazendo algo de que realmente gosto, por mais maluco e sem cabeça que possa parecer aos outros.
Porque a única coisa mais dolorosa do que não alcançar um sonho é não correr atrás dele, desistir e se conformar sem sequer tentar,
perdendo a energia e a felicidade que a aventura pode nos gerar."
Nathalie Trutmann
Nathalie Trutmann